sábado, 25 de abril de 2009

Música tradicional da Madeira


Em termos culturais a Madeira é uma terra de muitas incoerências e paradoxos. Por um lado, a sua sociedade sempre foi muito fechada, tradicional e conservadora (na mais pura tradição galaico-cristã), mas pelo outro, e por via da sua posição geográfica no Atlântico, perto da África negra e muçulmana, a caminho da América e descoberta pelos europeus, sempre esteve de espreita ao que os outros traziam e nunca teve grandes problemas em conviver com outras comunidades e tradições.

No entanto, este paradoxo foi muito útil. Durante 500 anos foi-se cozinhando um pote de influências culturais, que embora dominados pela tradição ocidental europeia, também foram sendo moldadas mediante pequenas farpas vindas de outras paragens geográficas.

Assim é possível encontrar na Madeira versões dos mais velhos romances carolíngios (já praticamente desaparecidos no Continente europeu) mas também adaptações de mornas cabo-verdianas que já fazem parte do quotidiano, para além de lengas-lengas e lendas misteriosas sobre africanos que aqui trabalharam nas plantações de açúcar.Nos idos de quinhentos, muitos foram os escravos negros, mouros e canarianos (guanches) que passaram passaram pela Madeira, chegando a contabilizar cerca de 10% da população residente, maioritariamente composta de gente emigrada do Minho (norte da ilha), Alentejo e Algarve (costa sul da ilha). As crónicas antigas dão conta de grandes romarias religiosas e festas pagãs em que os "muitos instrumentos de violas, guitarras, frautas, rabis e gaitas de fole" (1) se juntavam a uma trovoaria de tambores e bombos. Infelizmente, quer os rabis (instrumentos de origem árabe) e as gaitas-de-fole (trazidas do Noroeste da Península Ibérica) se perderam no cumular dos tempos, estando agora extintas na memória do povo.

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